(Quase) Oito anos depois

Foi no meio do caos do segundo lockdown que completei 7 anos morando na Holanda, em dezembro de 2020. Logo mais, em pouco mais de um mês (praticamente semana que vem, do jeito que o tempo está passando), já serão oito anos aqui. OITO. Eu não consigo nem conceber esse fato direito. Ainda tenho tanto pra aprender sobre esse país, sobre essa cultura e essa nação (que tem me decepcionado bastante com a falta de senso coletivo durante a pandemia), é surreal. 

Acho que agora posso dizer, com uma certa garantia, que aqui é minha casa. Não mais me considero uma expatriada, mas sim uma imigrante (inclusive, nesses últimos anos, passei a detestar o termo “expatriado” e seus significados embutidos). Mais uma imigrante que ainda se vê lidando com as consequências às vezes invisíveis (embora, emocionalmente, muito reais) da perda completa da sua identidade. Por um lado, passar esse tempo todo aqui fez com que eu finalmente me identificasse como brasileira e latina, e até com que eu me conectasse mais profundamente com certos aspectos da nossa cultura – especialmente a música, a arte e a nossa pluralidade como nação. Por outro, parece que nunca estive tão distante de um senso de identidade pessoal como nesse momento.

É uma imensa dicotomia que me trouxe inúmeros aprendizados e me colocou de cara com as minhas sombras, com meus medos e traumas, mas também com meus maiores sonhos e realizações que, de repente, eram tão tangíveis quanto uma xícara de café sobre a mesa da cozinha.

Oito anos depois, a fase da lua de mel com o país certamente acabou e as rachaduras nas paredes começaram a entrar no meu campo de visão. O passado colonizador e opressor, a resistência em admitir os erros e as consequências negativas desse histórico, o individualismo, a xenofobia e o racismo tão mascarados no véu da “tolerância”… poderia fazer uma lista bem grande. Talvez essa seja só mais uma faceta da vida imigrante, o sinal de que a gente realmente se ‘adaptou’ ao local escolhido por ora: começar a enxergar as coisas como elas realmente são, e não como a gente romantizou que seriam.

Um brinde (com café, para mim) aos oito anos de aprendizado, conquistas e perrengue; aos dias incríveis e felizes; à depressão de inverno; às novas amizades forjadas e às pouquíssimas antigas que aguentaram o tranco do tempo+distância; ao meu companheiro de vida por segurar minha mão e também me dar uns empurrões quando precisei.

E, acima de tudo, um brinde ao meu psicológico e emocional por aguentarem essa barra da redescoberta de ser. Proust!

campo de tulipas rosa com uma mulher ao centro, virada um pouco de lado, com cabelos esvoaçantes ao vento, um vestido de fundo preto e com estampa de pequenas flores verdes, e um cardigan terrracota
tulipas rosa fotografadas de baixo para cima, com pontinhos de terra nas petálas