Liberdade

Paula Abrahao - Liberdade - Bike

Foi o único dia dos últimos cinco meses onde a temperatura chegou a 22°C. Tinha um compromisso no centro, me despedir de uma amiga que estava voltando para a Bósnia, e fiquei 15 minutos parada em frente ao armário decidindo o que vestir.

Jeans? Eu sempre uso, e está calor demais. Shorts? Minhas pernas brancas e fora de forma vão ficar muito expostas. Vestido? Mas eu vou de bike, vai voar, todo mundo vai ver minha bunda, vou ficar desconfortável. Acho que vou de jeans mesmo…

Coloquei o jeans favorito, me olhei no espelho e lembrei de todas as holandesas que vi nessa atípica semana de calor e sol: shortinhos, saias coladas, saias midi, saias curtas, vestidos soltos; todas confiantes em cima de suas bikes, sem se preocupar com o que alguém teria pra dizer – ou com as rajadas de vento que chegam até 30km/h em um dia normal. Acredite, se alguém ousar falar alguma coisa, elas revidam na hora.

E me bateu uma coragem inesperada – se elas podem e conseguem, eu também posso! Coloquei meu vestido e sapatilha favoritos, minha jaquetinha de couro fake, pulei na bike (prendendo a parte da frente e de trás do vestido no banco) e fui embora. Paguei bundinha. Uma, duas, três vezes. Perdi as contas de quantas vezes senti as laterais do vestido levantando com o vento, revelando meu quadril branquelo pra quem quisesse ver. E sabe o que aconteceu?

Nada. Ninguém gritou, assobiou, encarou, xingou, apontou. Liberdade é poder sair de casa sem se sentir (tão) ameaçada.

Em tempo: tem sim casos de machismo e sexismo em Amsterdam, óbvio. A cidade não está imune, especialmente dos turistas que bebem demais ou ficam chapados de maconha e acham que podem tudo. Alguns lugares passam mais segurança do que outros, mas ainda assim nunca me senti tão confiante e despreocupada em usar um vestido sem ter que lidar com um shitload de babaquice.