Tromsø, Noruega: Aurora Boreal
Chegou o post mais esperado da história desse blog! Ver a aurora boreal estava há anos na minha bucket list, e eu nunca consegui nem imaginar como seria presenciar o fenômeno ao vivo. Spoiler alert: foi tão insano que até agora, meses depois, eu acho que estava sonhando.
No primeiro post falei sobre nossa viagem para Tromsø, a charmosa cidadezinha no extremo norte da Noruega. Um dos objetivos principais da nossa viagem era tentar ver a tal da menina aurora, já que Tromsø é o melhor lugar para começar a caçada às luzes (e não se enganem com o termo: é realmente uma caçada).
A época que fomos, no final de janeiro, nem é a mais ideal para conseguir ver auroras na região, pois o clima costuma ser instável e o céu nem sempre está limpo o suficiente. Pelo que pesquisei e ouvi de amigos, entre setembro-novembro e fevereiro-março as chances são melhores.
Ver uma aurora boreal é praticamente ver um unicórnio da vida real. MUITOS detalhes precisam se alinhar: você precisa estar próximo ou acima do círculo polar ártico, em uma região o mais escura possível e sem poluição visual, o céu precisa estar limpo (sem nuvens) e a atividade solar precisa estar acima de um determinado nível. As duas primeiras coisas são fáceis, mas quem disse que dá pra prever ou controlar o restante? Por isso (e por não conhecermos bem a região), escolhemos não tentar vê-las sozinhos e reservamos excursões com duas empresas diferentes: GreenFox e Wandering Owl. Tromsø Safari também é uma empresa bem renomada e ótima para esses passeios.
Caça à Aurora, Tentativa 1 – A New Hope
Chegamos em Tromsø em uma sexta-feira e nossa primeira tentativa seria no domingo, com a GreenFox. No começo da tarde de sábado, enquanto passeávamos pelos fiordes, recebemos uma ligação do nosso guia avisando que a previsão para sábado estava melhor do que no domingo. Segundo ele, as chances de ver auroras no sábado seria melhor, então ele sugeriu mudarmos a data – e nós topamos, claro. O guia nos buscou no hotel com uma van, no comecinho da noite, e as primeiras horas foram apenas dirigindo.
É nesse momento que o termo “caça às auroras” começa a fazer sentido: todos os guias ficam em contato constante uns com os outros para saberem em quais regiões o céu está mais limpo e o clima está melhor, aumentando as chances de ver alguma coisa. O pico de atividade solar costuma ser por volta das 23h-24h (ou a partir desse horário), então passamos horas só dirigindo de um canto pra outro. O guia parava ao longo do caminho pra descer da van e olhar o céu, e chegou até a dirigir em direção à Finlândia pra tentar ver algo lá – mas, 30min antes de chegarmos, ele foi avisado que as condições não estavam boas e seguimos pra outro local (fiquei chateada, queria ter ido pra Finlândia de brinde! haha).
Quando encontramos um local adequado, ele estacionou a van e retiramos todos os equipamentos: os macacões termais (que nem usamos, pois não estava muito frio), tripés para as câmeras, lanternas, comidas, bebidas e peles de rena pra sentarmos no chão ao redor da fogueira que ele faria. Infelizmente, não vimos praticamente nada nessa noite. A previsão nos enganou; o céu estava muito fechado e, apesar de vermos uma luzinha esverdeada bem fraca no céu, as nuvens pesadas nos impediram de realmente ver qualquer atividade.
Ainda assim, foi uma noite divertida: assamos linguiças na fogueira, tomamos chocolate quente e chá, conversamos horrores, rimos e ficamos defumando ao redor do fogo. Estar em um grupo de sete amigos que se conhecem muito bem fez toda a diferença, todos estavam com um bom ânimo mesmo com o prospecto de não ver nada. Com boas companhias, não existe tempo ruim! :)
Quando estávamos voltando pro hotel, já lá pelas 2am, o guia sugeriu fazermos o passeio de novo no dia seguinte – a data original que tínhamos escolhido. Acho que ele se sentiu um pouco culpado por sugerir a mudança da data, sendo que não vimos praticamente nada. Ele foi extremamente gentil em oferecer nos levar novamente por conta própria, independente da empresa e de qualquer pagamento extra. Eis que, no domingo, fizemos nossa segunda aventura de caçada às auroras!
Caça à Aurora, Tentativa 2 – The Aurora Strikes Back
O processo foi o mesmo: ele nos encontrou no hotel e passamos horas dirigindo até achar um lugar bom. Dessa vez, fomos pro meio de duas montanhas e passamos um tempinho lá – de novo fazendo fogueira, comendo linguiça com pão e esperando eternamente por algum sinal de luzes no céu. Não aguentava mais comer linguiça com pão a essa altura do campeonato! hahaha. As condições estavam um pouco melhores e conseguimos ver mais das luzes, especialmente quando saímos das montanhas e seguimos para uma praia. Começou a nevar e, segundo o guia, após a neve geralmente a chance de ver a aurora melhora – e ele estava certo! Dessa vez, ao invés de uma ‘corzinha’ menta no céu, conseguimos identificar alguns rastros de luz. E o céu? Nunca vi um céu tão incrível, cheio de estrelas. Mesmo sem ver aquela aurora boreal de fotografias, toda colorida e ‘dançante’, só de estar ali naquela praia, ouvindo o mar quebrando nas pedras e olhando o céu estrelado, cercada de pessoas queridas, foi sensacional.
Caça à Aurora, Tentativa 3 – The Return of the Aurora
No terceiro dia, nosso tour foi com outra empresa (Wandering Owl). Dessa vez a van era maior e a excursão foi feita em mais pessoas, cerca de 14. Nós já sabíamos como as coisas funcionam e não prestamos tanta atenção nas explicações e no caminho, ficamos quietinhos na van esperando chegar na localização da noite.
Paramos em uma clareira gigante, um campo onde fazem separação de renas (mas não tinha renas lá, só um cheiro muito forte delas e alguns presentinhos espalhados). Montamos acampamento, fizeram a fogueira, pegamos os tripés e nos espalhamos para configurar tudo para a noite. Ficamos mais de uma hora só esperando e tivemos umas poucas luzes fracas aqui e ali, porém já melhores que nas noites anteriores. Parecia promissor!
Depois do jantar ao redor da fogueira (eles forneceram sopa, pão e biscoitos, além de chá e chocolate quente), voltamos pros tripés e esperamos mais, e mais, e mais… até que as nuvens começaram a abrir, o céu ficou limpo e as luzes, do nada, começaram a ficar mais fortes. Até então eu admito que estava um pouco cética em enxergar qualquer coisa que se assemelhasse às fotos que sempre vemos por aí, mas parece que Tromsø decidiu nos dar esse presente de despedida: a atividade foi ficando cada vez mais intensa.
As luzes, que começaram fracas perto das montanhas, se espalharam intensamente no céu inteiro, bem acima das nossas cabeças. Elas dançavam de um lado para o outro, dando até para ver o rastro “mais alto” nos momentos de pico (na foto abaixo dá para entender um pouco isso da ‘luz alta’). A cor predominante era verde, mas vimos alguns rastros de magenta e uma luz branco-azulada em alguns momentos. A parte mais incrível, pra mim, foi realmente vê-las dançando no céu, parecia um véu se abrindo para um outro plano.
Foi muito mágico, superou todas as minhas expectativas. Eu só conseguia ficar sentada no chão olhando para o céu de boca aberta. Escorreram umas lágrimas de emoção, mas qualquer outra reação foi simplesmente impossível. A natureza é uma coisa louca. Relembrando agora, parece até que foi um sonho e que nada disso aconteceu. Felizmente tínhamos configurado a câmera pra tirar várias fotos ao longo da noite, então não precisamos nos preocupar com nada – era só curtir o que estava acontecendo.
Queria poder explicar melhor como foi, mas é extremamente difícil. Foi uma das experiências mais emocionantes e surreais que eu já vivenciei, valeu cada segundo das três noites mal dormidas. Ainda quero voltar pra Tromsø pra tentar ver a aurora boreal de novo (já que agora estou longe demais pra ver uma aurora austral ao sul do planeta) e ter uma experiência mais “aventureira”, digamos (nós mesmos caçando com alguns amigos, sem excursões, e ficando mais tempo).
Fomos embora com a atividade em alta ainda, tanto que no caminho pra van todos tivemos que parar e ficar admirando o céu mais um pouco, simplesmente não dava pra entrar e ir embora.
No dia seguinte já tínhamos que voar de volta pra Amsterdam, mas aproveitamos a manhã para pegar o teleférico e visitar a montanha logo em frente ao centro de Tromsø. Fomos presenteados novamente pela natureza, dessa vez com uma tempestade de neve enquanto estávamos no topo da montanha. Mas essa história fica para o terceiro (e último) post sobre nossas aventuras em Tromsø.
Se você leu até o final: obrigada e parabéns pela coragem! hahah. Espero ter conseguido transportar você um pouquinho para essa experiência mágica de ver uma aurora boreal. :)